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Revolução Russa: uma tragédia humana.

Canibais com suas vítimas, na província de Samara, em 1921.
Imagem: FIGES, Orlando. A Tragédia de um Povo, A Revolução Russa – 1891 – 1924. Record, 1999.

          No período Lênin “O maior de todos os males da época, responsável pelo extermínio de cinco milhões de vidas, foi a grande fome de 1921-1922”. (FIGES, 1999, p. 952), as regiões mais ricas da Rússia como Tambov e outros arredores de Moscou, outrora grandes exportadores de cereais, por volta de 1920, ameaçavam perecer pela fome.      

A fome transformou as pessoas em canibais. Esse foi um fenômeno muito mais comum do que os historiadores têm presumido. Na Bachkíria e nas estepes em torno de Pugachev e Buzuluck, onde a falta de alimentos era aguda, verificaram-se milhares de casos, cuja maioria nem chegou a ser registrada. Um homem, condenado após ter devorado várias crianças, confessou: “Em nossa aldeia, todos consomem carne humana, mas não revelam que o fazem”. “Há inúmeras tavernas na vila e todas servem pratos à base de crianças”. (FIGES, 1999, p. 954).    
          As mães, desesperadas para dar de comer aos filhos, cortavam pernas e braços dos cadáveres e ferviam a carne (FIGES, 1999), as pessoas se alimentavam dos próprios parentes, com freqüência, bebês, menos resistentes à fome e às doenças e cuja carne era mais tenra. FIGES (1999) afirma também que havia bandos de canibais e negociantes que matavam crianças pequenas, fosse para consumo próprio, fosse para vender a carne numa taverna.
Em algumas aldeias, os camponeses recusavam-se a enterrar os mortos, preferindo guardar os corpos nos silos e estábulos; não raro, a gente do campo pedia às turmas de socorro às vítimas da fome que, em vez de recolher os defuntos, os abandonassem nos povoados. Na aldeia de Ivanovka, perto de Pugachev, uma mulher foi flagrada devorando a carne do marido. A refeição estava sendo dividida com o filho do casal. Quando as autoridades policiais tentaram jogar fora o que ainda havia no prato, ela gritou: “Não, precisamos dele para nos alimentar, ele é nosso sangue e ninguém tem o direito de levá-lo de nós”.  (FIGES, 1999, p. 954).

          Segundo FIGES (1999) intelectuais russos com grande notoriedade mundial, reuniram-se numa comissão, para pedir a Lênin, que pressionasse, no sentido de ajuda internacional às vítimas da fome. Á primeira vista, o regime bolchevista não ficou interessado na história, porém, com a pressão da opinião pública internacional assistindo a tragédia do país, eles foram obrigados a conceder, em parte por pressão internacional e, em parte, para pacificar o país esfomeado.            

 
American Relief Administration (Administração de Auxílio Americana) alimentou, diariamente, dez milhões de pessoas e distribuíram enormes quantidades de remédios, roupas, ferramentas e sementes, suficientes para assegurar duas colheitas consecutivas e abundantes (as de 1922 e 1923), que finalmente permitiram ao país recuperar-se do flagelo. (FIGES, 1999, p. 956).
       
          Se não fosse à ajuda internacional e, em particular, a ajuda norte-americana, com o apoio logístico do exército dos Estados Unidos, mais pessoas morreriam. Quando a situação se pacificou, os bolchevistas prenderam os intelectuais russos que pediram a ajuda internacional e só não foram fuzilados, por causa, mais uma vez, da pressão pública internacional, o regime soviético os expulsou do país com a roupa do corpo. 


 
Crianças esfomeadas durante a grande fome de 1921-1922.
Imagem: COURTOIS, Stéphane; WERTH, Nicolas; PANNÉ, Jean-Louis; PACZKOWSKI, Andrzej; BARTOSEK, Karel; MARGOLIN, Jean-Louis. O Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror e Repressão. Bertrand Brasil, 1999.

Os Vermelhos torturam um oficial inimigo, durante a guerra contra a Polônia, em 1920; o homem foi dependurado nu, de cabeça para baixo, espancado, cortado, empalado e torturado até a morte.
Imagem: FIGES, Orlando. A Tragédia de um Povo, A Revolução Russa – 1891 – 1924. Record, 1999.

Lênin moribundo, com um de seus médicos e sua irmã mais nova, Maria U'lianova, durante o verão de 1923. Na época em que essa fotografia foi tirada, a ascensão de Stalin ao poder estava assegurada.
Imagem: FIGES, Orlando. A Tragédia de um Povo, A Revolução Russa – 1891 – 1924. Record, 1999.