“Vladimir Ilitch Lênin” (1870 – 1924) considerado por muitos historiadores como o personagem mais influente do século XX, e principal responsável pela revolução mais importante do século XX.
O personagem revolucionário Lênin surge a partir do momento em que o irmão mais velho de Lênin, Alexandre U’lianov, de 21 anos, um estudante em São Petersburgo, envolve-se com um grupo de extrema esquerda Pervomartovtsi, sendo cúmplice de algumas tentativas de assassinar o Czar Alexandre III da Rússia, resultando em sua morte em 1887.
Segundo FIGES (1999), durante a fome de 1891, Lênin opôs-se à idéia de campanhas humanitárias alegando que a crise de fome levaria milhões de camponeses destituídos a correr para as cidades e juntar-se às fileiras do proletariado, assim, o movimento revolucionário daria um passo à frente.
O homem que se tornaria o ditador da Rússia era praticamente ignorante do modo como o povo vivia; seus pés mal chegaram a tocar o solo das províncias. Exceto pelos dois anos em que exerceu a advocacia, ele jamais trabalhara. Era um ‘revolucionário profissional’, vivendo à parte da sociedade e sustentando-se com os fundos do partido e com a renda da propriedade materna (desfrutada até a morte dela, em 1916).
Para FIGES (1999), Lênin desconhecia as rotinas do trabalho cotidiano e demonstrava um desprezo impiedoso, digno de um nobre, pelas vidas da gente comum. A vida, em toda sua complexidade, é uma incógnita para Lênin, que jamais viveu entre o povo.
Durante a Primeira Guerra Mundial, em meados de 1917, a Alemanha adota uma estratégia onde Lênin seria enviado a Rússia secretamente em um trem, para fomentar a Revolução Vermelha, derrubar o regime dos czares e por fim a Primeira Guerra Mundial, pressupondo uma vitória alemã. Porém, a Alemanha perde a primeira guerra mundial, o regime dos czares cai, e em outubro de 1917, ocorre o Golpe de Estado Bolchevique, é a Revolução Russa ou Revolução Vermelha.
Até março de 1918, Lênin e Krupskaya ocuparam um cômodo quase vazio no Instituto Smolny, um ex-internato feminino, dormindo em duas camas de campanha estreita e lavando-se em água fria despejada numa bacia. O lugar parecia-se mais com uma cela de prisão do que com a suíte de um ditador do maior país do mundo, quando o governo mudou-se para Moscou, o casal e a irmã de Lênin foram morar num modesto apartamento de três aposentos no Kremlin; as refeições eram servidas na cafeteria da cidadela.
Imagem: FIGES, Orlando. A Tragédia de um Povo, A Revolução Russa – 1891 – 1924. Adaptado. Record, 1999.
Lênin a partir de 1919 iniciara uma política de confisco de grãos dos camponeses, que gradualmente levaria uma crise de fome em massa na população. A tentativa de planificar a economia, através do controle de distribuição de alimentos, mediante apropriação forçada dos grãos dos camponeses, a fim de abastecer as cidades, gerou não somente revolta e uma feroz guerra civil no campo, como uma diminuição gradual da produção de cereais na Rússia. Os camponeses foram proibidos de vender livremente seus excedentes e os bolchevistas, exigindo cotas de produção acima das possibilidades do campo, empobreceu-os radicalmente, gerando escassez de alimentos.
Os bolchevistas, através de uma incrível violência, torturando, matando e saqueando os agricultores, não somente confiscavam tudo que o camponês possuía como não poupavam nem os grãos guardados para a o replantio de novas safras agrícolas.
“O maior de todos os males da época, responsável pelo extermínio de cinco milhões de vidas, foi a grande fome de 1921-1922”. (FIGES, 1999, p. 952), as regiões mais ricas da Rússia como Tambov e outros arredores de Moscou, outrora grandes exportadores de cereais, por volta de 1920, ameaçavam perecer pela fome.
Os comissários da Tcheka, em memorandos direcionados a Lênin e Molotov, relatavam à incapacidade dos camponeses de oferecer seus grãos, já que não somente o campo tinha se desestabilizado, como simplesmente a produção agrícola decaído.
No entanto, sabendo dessas informações, Lênin radicalizou o processo, obrigando cada vez mais os camponeses a darem suas cotas de produção onde eles não existiam mais.
Antonov-Ovsenko, em uma carta sincera a um correligionário do partido, dizia que as exigências bolcheviques para a agricultura, em milhões de puds de cereais, eram tão além das expectativas da população, que ela simplesmente morreria de fome. E, de fato, foi o que ocorreu.
O país caiu num caos completo, rebeliões explodiam por toda a Rússia e arredores. Os marinheiros de Kronstadt se amotinaram e fizeram alianças com os camponeses insurretos e esfomeados.
A fúria da população era tanta, que os "comissários do povo" perdiam o controle de várias cidades russas, já que eram massacrados pela turba enraivecida.
Numa dessas cidades, os grãos de alimentos confiscados apodreciam na estação ferroviária, enquanto a população morrendo de fome, enfrentando os tiros dados pelos soldados do exército vermelho, saqueava tudo quanto viam.
Enquanto isso, nas florestas da Rússia e Ucrânia, exércitos inteiros de camponeses atacavam os bolchevistas por arapucas.
Imagem: FIGES, Orlando. A Tragédia de um Povo, A Revolução Russa – 1891 – 1924. Adaptado. Record, 1999.
Canibais com suas vítimas, na província de Samara, em 1921.
Imagem: FIGES, Orlando. A Tragédia de um Povo, A Revolução Russa – 1891 – 1924. p. 699. Adaptado. Record, 1999.
A fome transformou as pessoas em canibais. Esse foi um fenômeno muito mais comum do que os historiadores têm presumido. Na Bachkíria e nas estepes em torno de Pugachev e Buzuluck, onde a falta de alimentos era aguda, verificaram-se milhares de casos, cuja maioria nem chegou a ser registrada. Um homem, condenado após ter devorado várias crianças, confessou: “Em nossa aldeia, todos consomem carne humana, mas não revelam que o fazem”. “Há inúmeras tavernas na vila e todas servem pratos à base de crianças”. (FIGES, 1999, p. 954).
As mães, desesperadas para dar de comer aos filhos, cortavam pernas e braços dos cadáveres e ferviam a carne (FIGES, 1999), as pessoas se alimentavam dos próprios parentes, com freqüência, bebês, menos resistentes à fome e às doenças e cuja carne era mais tenra. FIGES (1999) afirma também que havia bandos de canibais e negociantes que matavam crianças pequenas, fosse para consumo próprio, fosse para vender a carne numa taverna.
Em algumas aldeias, os camponeses recusavam-se a enterrar os mortos, preferindo guardar os corpos nos silos e estábulos; não raro, a gente do campo pedia às turmas de socorro às vítimas da fome que, em vez de recolher os defuntos, os abandonassem nos povoados. Na aldeia de Ivanovka, perto de Pugachev, uma mulher foi flagrada devorando a carne do marido. A refeição estava sendo dividida com o filho do casal. Quando as autoridades policiais tentaram jogar fora o que ainda havia no prato, ela gritou: “Não, precisamos dele para nos alimentar, ele é nosso sangue e ninguém tem o direito de levá-lo de nós”. (FIGES, 1999, p. 954).
Segundo FIGES (1999) intelectuais russos com grande notoriedade mundial, reuniram-se numa comissão, para pedir a Lênin, que pressionasse, no sentido de ajuda internacional às vítimas da fome. Á primeira vista, o regime bolchevista não ficou interessado na história, porém, com a pressão da opinião pública internacional assistindo a tragédia do país, eles foram obrigados a conceder, em parte por pressão internacional e, em parte, para pacificar o país esfomeado.
American Relief Administration (Administração de Auxílio Americana) alimentou, diariamente, dez milhões de pessoas e distribuíram enormes quantidades de remédios, roupas, ferramentas e sementes, suficientes para assegurar duas colheitas consecutivas e abundantes (as de 1922 e 1923), que finalmente permitiram ao país recuperar-se do flagelo. (FIGES, 1999, p. 956).
Se não fosse à ajuda internacional e, em particular, a ajuda norte-americana, com o apoio logístico do exército dos Estados Unidos, mais pessoas morreriam. Quando a situação se pacificou, os bolchevistas prenderam os intelectuais russos que pediram a ajuda internacional e só não foram fuzilados, por causa, mais uma vez, da pressão pública internacional, o regime soviético os expulsou do país com a roupa do corpo.
a grande fome de 1921-1922
Imagem: COURTOIS, Stéphane; WERTH, Nicolas; PANNÉ, Jean-Louis; PACZKOWSKI, Andrzej; BARTOSEK, Karel; MARGOLIN, Jean-Louis. O Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror e Repressão. p.265. Adaptado. Bertrand Brasil, 1999.
A Grande Fome de 1921-1922
A Grande Fome de 1921-1922
Imagem: FIGES, Orlando. A Tragédia de um Povo, A Revolução Russa – 1891 – 1924. Adaptado. Record, 1999.
Lênin declarava abertamente que a fome tinha várias conseqüências positivas, seria um pretexto para lançar uma grande operação política contra a igreja ortodoxa, deixando claro que o poder das autoridades é bem maior que o dos céus. Segundo FIGES (1999, p. 915): “No entender do regime, a igreja era uma adversária em potencial, pois estaria tentando lhe usurpar o poder”. Com a Revolução Russa, ocorre uma ruptura entre o Estado e a igreja ortodoxa, o pensamento ateu faz parte do Estado socialista, consequentemente neste Estado socialista, ocorre à rejeição de todas as formas de religião através da supressão da liberdade de expressão e religiosa, daí resultaram a perseguição aos religiosos e saques às igrejas ortodoxas.Em meados de 1922, nas Ilhas Solovetsky ou Solovki, no Mar Branco, inicialmente sede de monastério do Império Russo, depois colônia penal czarista, surge o primeiro grande campo de concentração soviético, centenas encontraram a morte, vitimados pela fome, à doença e o esgotamento (FIGES, 1999).“A força bruta e o terror implacável também foram usados para acabar com as principais revoltas camponesas, embora, alguns lugares, como na região do Volga, a fome e a exaustão se incumbissem de dar cabo dos insurretos.” (FIGES, 1999, p. 942).
A perseguição e o extermínio de kulaks, ocorrem por ordem de Lênin. Kulak é um termo pejorativo usado no linguajar político soviético para se referir aos camponeses relativamente ricos do Império Russo, donos de fazendas que faziam uso de trabalho assalariado em suas atividades, estes camponeses são resultados da reforma de Stolypin introduzida em 1906 com o intuito de criar um grupo de fazendeiros prósperos que apoiariam o governo do Czar.O documentário THE SOVIET STORY (2009) apresenta um documento assinado por Lênin ordenando o extermínio de kulaks: “Enforquem ao menos 100 kulaks, executem os reféns. Façam de uma maneira que num raio de quilômetros as pessoas vejam e tremam”. Lênin.Lênin em meados de 1923 começa a apresentar traços de insanidade mental, alucinado o revolucionário ficou vindo a falecer em 1924. Lenin não articulou uma ditadura do proletariado para salvaguardar a revolução, ele fez a revolução para instituir uma ditadura. (FIGES, 1999).
Lênin moribundo, com um de seus médicos e sua irmã mais nova, Maria U'lianova, durante o verão de 1923. Na época em que essa fotografia foi tirada, a ascensão de Stalin ao poder estava assegurada.Imagem: FIGES, Orlando. A Tragédia de um Povo, A Revolução Russa – 1891 – 1924. Record, 1999.
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