Quando se iniciou a Primeira Guerra Mundial, a Rússia era um vastíssimo império. Este território gigantesco, com 22 milhões de km2 e 174 milhões de habitantes, estendia-se da Europa até ao oceano Pacífico. Era governado pelo czar, um governo autocrático, ou seja, um imperador que continuava a dispor, nos começos do século XX, de um poder equivalente ao dos monarcas absolutistas do Antigo Regime europeu, czar Nicolau II foi o último dos czares russos. Embora economicamente fosse a quinta potência mundial, a sua industrialização era frágil, dependia de capitais e técnicas estrangeiras. Existiam apenas cerca de 3 milhões de operários (menos de 2% da população), concentrados em algumas grandes cidades, como Moscovo e S. Petersburgo (a capital), a maioria da população era constituída por camponeses (cerca de 75%).
Até meados do século XIX mantivera-se na Rússia o regime servil que tinha vigorado na Europa ocidental durante a Idade Média: a maior parte dos camponeses russos (os mujiques) eram servos dependentes dos grandes proprietários de terra, aristocratas (os boiardos). Só em 1861 foi abolida a servidão, mas a condição do campesinato russo continuou miserável. Muitos camponeses emigravam para as cidades, indo engrossar as fileiras dos operários ou dos desempregados.
O mundo operário estava sujeito a condições de trabalho e de vida igualmente difíceis, o que conduzia a reivindicações e greves frequentes. Esta situação social era extremamente favorável à difusão das ideias socialistas, aliás, não foi apenas entre o operariado que as ideias socialistas tiveram grande aceitação. Uma parte da pequena burguesia, constituída por funcionários e elementos das profissões liberais, também aderiu às propostas marxistas. Todavia, a maior parte dos setores burgueses defendia a implantação de um regime liberal parlamentar.
Imagem: FIGES, Orlando. A Tragédia de um Povo, A Revolução Russa – 1891 – 1924. Adaptado. Record, 1999.
A Primeira Guerra Mundial veio agravar as dificuldades econômicas e as tensões sociais na Rússia czarista. A Rússia fazia parte da Tríplice Entente e teve de suportar uma guerra desgastante contra a Alemanha, na frente oriental. As derrotas militares, as enormes baixas sofridas, a fome e as deserções de tropas (cerca de um milhão de desertores em 1917) contribuíram para criar na Rússia condições extremamente favoráveis para ao Golpe de Estado Bolchevique.
Quando a revolução rebentou em Fevereiro de 1917, o czar Nicolau II estava em São Petersburgo, onde tinha fundado um hospital. Assim que Nicolau II abdicou do trono, ele também abandonou o exercito e tinha intenções de fugir para a Inglaterra onde estavam a sua esposa e filhas, mas o rei Jorge V tinha proibido a entrada de qualquer Grão-Duque russo no país.
Nicolau II recebeu autorização do Governo Provisório para ir viver na Finlândia onde permaneceu escondido até Março de 1918. Com o objetivo de visitar suas filhas, solicitou um passaporte novo ao governo, os bolcheviques localizaram-no e levaram-no para Petrogrado onde, a princípio, recebeu apenas ordens para não abandonar a cidade, posteriormente foi enviado para o exílio em Vologda, por fim terminou preso formalmente em Petrogrado e executado.
Em 28 de Janeiro de 1919, quatro membros da família imperial, feitos prisioneiros meses antes na prisão de São Petersburgo são acordados nas primeiras horas da manhã e informados de que têm de arrumar os seus pertences porque vão ser transferidos. Cumprem as ordens e são atirados num caminhão com outros prisioneiros que os leva até à Fortaleza de Pedro e Paulo. Antes de chegar ao local escolhido, são obrigados a deixar a bagagem para trás e recebem ordens para tirar os casacos e camisolas apesar das temperaturas negativas. Todos são mortos a tiro e enterrados numa vala comum junto de todos os outros homens executados nesse dia. As quatro últimas vítimas eram: Grão-Duque Paulo Alexandrovich, Grão-Duque Dmitri Constantinovich, Grão-Duque Nicolau Mikahilovich e Grão-Duque Jorge Mikhailovich.
"Revolução de 1905 ou Domingo Sangrento"
No desenrolar de 1905 um movimento espontâneo contra o czarismo, espalha-se pelo império russo, aparentemente sem liderança, direção, controle ou objetivos muito precisos.
No domingo do dia 22 de Janeiro de 1905 foi organizada uma manifestação pacífica e em marcha lenta, liderada pelo padre católico ortodoxo e membro da Okhrana, Gregori Gapone, com destino ao Palácio de Inverno do czar Nicolau II, em São Petersburgo. O objetivo era entregar uma petição, assinada por aproximadamente 135 mil trabalhadores, reivindicando direitos ao povo, como reforma agrária, fim da censura e a presença de representantes do povo no governo. Segundo alguns historiadores, durante a caminhada, eram cantadas músicas religiosas, e a canção nacional “Deus Salve o Czar”.
Sergei Alexandrovitch, grão-duque, ordenou à guarda do czar que não permitisse que povo se aproximasse do palácio e que dispersasse a manifestação, entretanto a massa não recuou. A guarda, então, disparou contra a multidão.
A manifestação rapidamente se dispersou, deixando centenas de mortos, a população indignou-se com a atitude do czar, que, até então, era bem visto por seus súditos. O episódio ficou conhecido como Domingo Sangrento e foi o estopim para o início do movimento revolucionário.
O czarismo, sentindo-se ameaçado, procurou dar ao regime uma aparência democrática, criando um parlamento (a Duma).
Imagem: FIGES, Orlando. A Tragédia de um Povo, A Revolução Russa – 1891 – 1924. Adaptado. Record, 1999.
De qualquer maneira o movimento de 1905, o Domingo Sangrento e outros fatores somaram-se crescendo o descontentamento da população para com o regime czarista. Sempre lembrando que uma parcela considerável da população apoiava o regime czarista, principalmente pelo vínculo religioso, no caso a Igreja Católica Ortodoxa Russa, sempre existiu uma grande tradição religiosa na Rússia, uma ligação entre a Igreja Católica Ortodoxa Russa e o Regime Czarista.
Outro ponto importante a lembrar é que muitos camponeses e boa parte da população urbana não apoiaram a Revolução de Outubro, o Golpe de Estado Bolchevique, muitos nem sabiam o que ocorria, por fim, tivemos muitos camponeses lutando contra os bolcheviques na Guerra Civil.
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